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As fronteiras de um cinema ainda a ser descoberto



Mesmo com o avanço da tecnologia e a consequente diminuição de fronteiras, ainda existem barreiras separando o Brasil de outras tradições culturais. No cinema, essa distância fica mais evidente: qual o último filme de origem africana a entrar em cartaz no circuito pernambucano? Pensando nessas lacunas, as Faculdades Integradas Barros Melo (Ae so), em parceria com
o Consulado Francês, trouxe o senegalês Sada Niang, professor de cinema associado da Universidade de Victoria, no Canadá. 

Ele participará do debate “Cinema africano - Caminhos criativos”, hoje, às 9h, no cineteatro da instituição, com mediação e tradução do professor Paolo Gregori, coordenador do curso de Cinema e Audiovisual, da Barros Melo.

“Diálogos culturais através do cinema se tornaram melhores por causa da expansão das plataformas  de exibição, mas o acesso a essas plataformas ainda é limitado para a maioria das  pessoas”, opina Niang.

“A  distribuição de filmes no Brasil e na América Latina em geral é fraca, e talvez uma maior participação de cineastas africanos em festivais locais e a introdução de cursos de cinema africano nas universidades possam ser os primeiros passos”, destaca o professor senegalês.

Segundo ele, a história do cinema africano está associada à evolução política e social do continente. “É a história de uma forma popular de arte em um continente dominado pelo Ocidente por 400 anos e depois colonizado por outros 100 anos. 

Uma trajetória própria emergiu quando os africanos decidiram segurar suas vidas.  Por causa desses fatores, as narrativas e os personagens que aparecem nos filmes são em geral muito ousados, interessados em se definir nos seus próprios termos, que agem com o coração quando definem seus espaços e seus costumes”, destaca.

Nessa perspectiva, Sada destaca cineastas que ao mesmo tempo em que ressaltam essas características apontam também opções de estilo que os conectam a outros movimentos e realizadores.

“Há filmes como ‘Borom sarret’ (1963) e ‘Money Order’ (1968), de Ousmane Sembene, que oferecem  aos espectadores situações, problemas e desafios que podem ser facilmente encontrados nos filmes  de Glauber Rocha ou nos neorrealistas italianos. A dissidência criativa de Djibril iop Mambety, que se  inspira nos gêneros gangster americano, spaghetti western  italiano e thrillers  europeus. E a descrição fria dos ersonagens divididos entre  dilemas dolorosos nos filmes  de Abdurrahman Sissako,  que nos lembram de alguns dos filmes de Costa-Gavras”, lista Sada.

“Tudo isso para dizer que o  cinema africano não se desenvolveu  no vácuo. Foi  emoldurado pelas experiências  do cinema mundial; pela  marca euro-americana, em sua maioria. De fato, não é
muito exagerado discutir que  a nova onda de entretenimento que está chegando  às telas de Burkina Faso,  Gana e Nigéria tem algo a ver  com a popularidade das novelas brasileiras exibidas nas televisões africanas”, comenta o professor. 

Assistir a esses (e outros)  filmes significa ampliar a  perspectiva sobre um continente cuja produção artística não costuma superar fronteiras  geográficas (políticas, econômicas). “Acho que o
aspecto mais proeminente que podemos aprender ao  ver o cinema africano pela  primeira vez é, apesar de complexos desafios existenciais, a África não é um lugar de miséria, cheio de problemas,  que programas de televisão gostam de retratar”, conclui Niang.

 O professor detecta relações entre a história da África e a produção cinematográfica do continente. “Hoje, com a dissolução do nacionalismo africano, esses filmes estão explorando dramas  pessoais intensos e apresentando narrativas de entretenimento populares”, sugere. 

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do dramas  pessoais intensos e apresentando narrativas de entretenimento populares”, sugere. 

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