Clipagens

Esse vírus pode pegar



Dos carrinhos anunciando cursos de informática no centrão do Recife às confraternizações de Natal do seu trabalho, o brega Minha mulher não deixa não toca em todo lugar. Você certamente já deve ter visto na televisão ou na internet a dancinha preguiçosa que quatro rapazes gravaram para o ´clipe` na praia de Maria Farinha. Não há dúvidas de que música e vídeo são fenômenos. Um fenômeno dessa nossa era massificamente virtual: é o que os publicitários chamam de produto viral. Como uma gripe em ônibus lotado, o vídeo se espalhou numa velocidade impressionante. Publicado há um mês já se aproxima dos três milhões de visualizações, com quase 11 mil comentários. ´Um feito desses é o sonho de qualquer publicitário`, diz a consultora e professora universitária Izabella Domingues. ´Não há fórmulas certas que digam que um vídeo vai se tornar viral`, explica. Não há fórmulas, mas há indicativos. E Minha mulher não deixa não possui vários. O professor de publicidade da UnicapFernando Fontanella, que termina um doutorando sobre Memes (fenômenos que se autopropagam na web), nos dá as coordenadas: ´Primeiro, acessibilidade: quanto menos se precisar de repertório para entender o vídeo, mais ele tem facilidade de se propagar. Segundo, uma conexão com a vida cotidiana. Terceiro ponto, a facilidade de variações que o vídeo oferece, como as paródias`, explica. Fontanella compara os virais com as piadas que se popularizam no boca a boca. ´O que nos espanta nesses virais é a velocidade com que isso acontece. As piadas iam passando de grupo para grupo aos poucos. Hoje todo mundo está vendo o mesmo vídeo`, diz. O músico e professor da UFPE Felipe Trotta nos lembra ainda que a letra de Minha mulher não deixa não tem elementos com alta probabilidade de sucesso: ´Trata com humor um tema que de certa forma causa constrangimento, mas que é comum no dia a dia`, aponta. Há uma explicação para o fato de ser incomum que vídeos bem-produzidos e músicas de Mozart não sejam virais. O trash nos atrai.´Primeiramente, pode ser um riso de escárnio ou de superioridade. Mas depois acontece uma identificação: nos solidarizamos com o alvo da piada. Passamos a achar 'genial' que quatro caras gravem sem pretensões um vídeo na praia e se tornem um fênomeno. Nós passamos a rir com ele, e não dele`, explica Fontanella. Porém, na essência, esses vídeos continuam a ser piadas. E ninguém aguenta ouvir a mesma piada por muito tempo. Um dia ela perde a graça. Quem ainda se lembra de Ruth Lemos e seu sanduí-íche-íche? Mas, como estamos solidarizados com Minha mulher não deixa não, temos que dizer que os vídeos virais possuem um Éden. ´é quando eles se incorporam a cultura popular. Por exemplo, pouca gente hoje vê o video Me dá meu chip, Pedro!, mas se eu falar isso no trabalho, todo mundo vai achar graça`, explica Fontanella. Só o tempo dirá se Minha mulher é um virus de estação ou uma boa e velha piada de português.

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