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Novos filmes de Ken Loach e Bruno Dumont animam o Festival de Cannes



O inglês Ken Loach e o francês Bruno Dumont são dois cineastas muito queridos pelo Festival de Cannes. Quase todos os filmes deles dois já foram exibidos por aqui e alguns foram premiados, inclusive com a Palma de Ouro. No segundo dia da Mostra Competitiva, na sexta-feira (13-5), eles ficaram frente com seus novos filmes: Loach, com I, Daniel Blake, e Dumont, com Ma Loute– certamente duas obras das mais ambiciosas na filmografia dos cineastas.

Prestes a completar 80 anos em junho, Ken Loach chegou a anunciar sua aposentadoria alguns meses atrás. Aparentemente em ótima forma física, Loach apresentou o drama social I, Daniel Blake. Ele já venceu em 2006, com Ventos da Liberdade, sobre a luta dos irlandeses para sair do jugo dos britânicos.

Desde 2012, com um intervalo entre um ano e outro, que o cineasta emplaca um filme na Seleção Oficial. Ao contrário de A Parte dos Anjos (2012) e Jimmy´s Hall (2014), I, Daniel Blake é o mais forte dos três e um possível candidato à Palma desse, apesar de estarmos apenas no comecinho do festival.

Embora A Parte dos Anjos já lançasse um olhar preocupado para o destino dos jovens, que perdem chances de se realizarem quando cometem pequenos e crimes, o novo filme vai direto numa questão que aflige não só a Grã-Bretanha, mas toda a Europa e várias partes do mundo, inclusive o Brasil, que é o desempregado aliado às políticas restritivas dos órgãos governamentais que deveriam ajudar o trabalhador.

Daniel Blake (David Johns, em seu primeiro longa-metragem) é um carpinteiro viúvo de cinquenta e poucos anos que, após sofrer um ataque cardíaco, não consegue receber auxílio do governo. Apesar preencher inúmeros documentos para agilizar o processo, ele esbarra numa uma burocracia brutal. A história dele se entrecruza com a de Katie (Hayley Squires), uma jovem mãe solteira de dois filhos, que se prostitui e chega a passar fome.

Loach não tem medo de chocar, com a história dos seus deserdados sociais, e batendo de frente com todas as medidas contra o bem-estar social de trabalhadores e pobres. I, Daniel Blake, pode até transparecer um certo mimimi de país rico, considerando que há outros realmente pobres se comparados à Inglaterra. Mas, em tese, seu filme é uma pancada no estômago dos espectadores. Honesto e prestativo, Blake é um símbolo de uma pessoa comum, que acorda para trabalhar e ajudar o próximo.

A dupla David Johns e Hayley Squires estão em perfeita sintonia nos seus personagens. A fotografia de Robbie Ryan e o roteiro de Paul Laverty, parceiros frequentes de Ken Loach, sustentam o arcabouço emocional e técnico do diretor, que quase sempre procura sem simples e direto em seus filmes.

Já Bruno Dumont, que outrora foi um aplicado discípulo de Robert Bresson, deu uma guinada de 360 graus em seu estilo cinematográfico a partir da realização da série de TV O Pequeno Quinquin, de 2014. Seguindo esta nova orientação, Dumont caprichou em Ma Loute, um estranhíssimo e por vezes cansativo exercício cômico e farsesco, com muitas coisas herdadas de Jacques Tati.

O começo é bastante excitante, mas depois de meia hora as piadas se repetem, não embora se redima um pouco quando chega em direção ao seu final. Trata-se de um filme da escola absurda, que parece estar imperando em Cannes neste ano. A história acompanha as férias de uma família rica, comandada por Fabrice Luchini e Valéria Bruni Tedeschi, na região de Palais de Calais, perto do Canal da Mancha.

Lá, eles, suas filhas e um primo se envolvem com uma família de pescadores canibais, como o jovem Ma Loute (Brandon Lavieville). O filme reserva especial atenção para uma dupla de policiais, que investiga o desaparecimento de moradores. O chefe policial Machin (Didier Desprès), rotundo como uma bola, cai o tempo todo e arranca muitas gargalhadas. A intepretação exagerada de todo o elenco, especialmente de Juliette Binoche, como a irmã de Fabrice Luchini, é um caso à parte e dividiu os jornalistas em Cannes.

Leia mais na edição deste sábado (14-5) do JC+, do Jornal do Commercio. 

O repórter viajou numa parceria entre o JC, o Institut Français e a AESO-Barros Melo.

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