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Virtuose: piano de Amaro Freitas é alimento para os ouvidos


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Um bairro não é feito apenas de quem nele mora, mas também de quem por ele passa. E quando passa e deixa a vontade de que volte, torna-se ainda mais significativo. É o caso do pianista Amaro Freitas, que frequenta o bairro do Espinheiro pelo menos uma vez por semana quando toca, às quintas-feiras, no Café São Braz. Simpático e de riso solto, a conversa com o músico toma ritmo e, entre um intervalo e outro de sua apresentação, ele conta ao PorAqui sobre sua carreira e o trabalho para desmistificar o piano.

Amaro tem 26 anos e, apesar de jovem, críticos de música do país já o elevaram ao patamar de fenômeno do novo jazz brasileiro. E não é pra menos. O pianista lançou, junto aos músicos que o acompanham – Hugo Medeiros (bateria) e Jean Elton (baixo acústico) -, seu primeiro disco entitulado Sangue Negro, no Festival Mimo, em Olinda, no ano passado, ganhando o prêmio de novos talentos. A partir daí, o músico deslanchou.

“Toquei no Jurerê Jazz, em Santa Catarina, no Sesc Pompeia, em São Paulo, no Festival de Ibiapaba, no Ceará, no Festival de Inverno de Garanhuns, aqui em Pernambuco, no Circuito BNDES e no Festival de Inverno de Petrópolis, no Rio. Também estou negociando uma turnê fora do país, aí entro com força no circuito do jazz”, comenta.

Voltando mais de uma década ao bairro de Nova Descoberta, o menino Amaro, então com 10 anos, aprendia o gosto pela música com o pai evangélico, que arranhava alguns instrumentos, e na igreja, onde tocava teclado. Com 15 anos ganhou de um amigo o DVD de jazz do pianista Chick Corea. “Fiquei impressionado porque só tinha tido contato com a música da igreja.”, conta.

História

Amaro, autodidata, chegou a iniciar um curso no Conservatório Pernambucano de Música, mas não teve dinheiro para continuar, faltava grana para a passagem e outras necessidades básicas. Ele começou a trabalhar como call center e conseguiu fazer um curso de harmonia na escola Tritonis, no Recife. Nesse momento conheceu outros músicos, deu aula em projeto social e foi ganhar a vida tocando em bandas de sertanejo, música católica e funk soul. “Depois entrei no ramo de piano bar e com o dinheiro estudei produção fonográfica na universidade Aeso”, diz.

O pianista não tinha um piano. Na verdade, continua sem ter. Apesar de já possuir condições financeiras para comprar, ele disse que precisa antes se mudar para uma casa menos úmida para não danificar o instrumento. Mas como Amaro aprendeu a tocar sem o piano? “Eu estudava no teclado imaginando que era um piano, me regulava para não ficar com vícios de tecladista. Não era fácil, mas quando você quer muito uma coisa você consegue”, ressalta.

Já no período de pré-produção do disco, ele pediu ao dono do Restaurante Mingus, em Boa Viagem, para ficar estudando no piano que havia lá antes de começar o expediente. “O restaurante abria às 12h e eu estudava das 8h às 11h”, conta. Hoje, Amaro concilia seus horários com os do Estúdio Carranca e passa horas estudando no instrumento do espaço. “É uma terapia. Descobri que tenho várias possibilidades no piano, posso tirar um som da natureza, da chuva, de uma caverna ou de um serrote se eu quiser. Não me limito a tocar apenas as teclas, o que já é muita coisa, mas o instrumento tem muito mais a oferecer”, complementa.

O estilo de Amaro é visceral, tribal, como ele mesmo descreve. “Penso o piano como um instrumento percursivo, intenso, trabalho nele o ritmo como se fosse um tambor de 88 teclas”, brinca. Ele elenca pianistas modernos e contemporâneos que o influenciam como Chick Corea, Herbie Hancock, Gonzalo Rubalcaba, Luiz Eça, Craig Taborn, Leo Genovese e Vijana.

“Tem também Hermeto Pascoal e Egberto Gismonti. Esses caras trabalham ritmos brasileiros como samba, frevo e baião no piano de uma forma bela. Me dedico também a isso. Sempre tento ser mais popular pra quebrar o estigma de que o piano é para determinada classe social. É um instrumento difícil, que muita gente não tem acesso. Mesmo assim quero mostrar a simplicidade dele, sempre me apresento, inclusive, de forma bem despojada”, explica.

Amaro toca todas as quintas-feiras no Café São Braz do Espinheiro, na rua Santo Elias, das 17h às 20h. Lá, o músico trabalha um repertório mais popular, como tango, bossa nova, balada americana, samba, chorinho e MPB, por conta da identificação do público. Mas o pianista dá uma dica para quem quer conhecer seu trabalho autoral por esses dias. “Vou fazer um concerto no próximo sábado (30), às 15h30, do álbum Sangue Negro no aniversário de 15 anos do Instituto Ricardo Brennand, na Várzea”, enfatiza. Maiores informações sobre entrada e vagas para assistir à apresentação podem ser obtidas pelo telefone (81) 2121-0354.

Fonte: PorAqui

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