VIOLÊNCIA NA TV


Institucional
maio. 12, 2005

"É a partir dos estudantes que a gente pode construir uma nova comunicação". É o que afirmou a jornalista Aline Lucena, da TV Solidária - Sinos, na primeira noite do Fórum de Comunicação Aeso. A mesa redonda sobre ética, democratização da comunicação e comunicação como direito humano foi mediada pela professora de ética Suely Figueiredo contou também com a participação da jornalista Ana Veloso, do Fórum Pernambucano de Comunicação. "É muito importante discutir esse assunto na universidade, porque muitos alunos não vêem exemplos positivos na mídia e, quando chegam no mercado, são levados a cometer os mesmos erros, deixando a responsabilidade de lado ao exercer a profissão", alerta Ana Veloso. As convidadas exibiram um vídeo produzido pela TV Sinos em parceria com o Ministério Público. No filme, trechos extraídos da programação de tv aberta em Pernambuco são contrapostos a cada lei, estatuto e ato internacional que vêm sendo diariamente desrespeitados pela imprensa. São grosserias, humilhações com vítimas de violência e julgamento precipitado de acusados de crimes. "Recorrer ao riso e ao escárnio para mostrar a violência é negar a humanidade do ser humano. Esses exemplos demonstram a violência simbólica cometida pelos meios de comunicação", alerta Ana Veloso. Segundo ela, devemos monitorar a mídia para que ela não se torne mais uma forma de violência contra as pessoas. O argumento de que programas violentos só existem porque há público para eles não convence Aline Lucena. Para ela, a comunidade pobre, que já vive imensas violações de direitos humanos, não conseguem se enxergar em programas de televisão diferenciados ou nos jornais convencionais, não-sensacionalistas. "Essas pessoas querem ter voz e essa é a única forma que encontraram", analisa Aline. No vídeo exibido, o apresentador local Jota Ferreira aparece em seu programa incitando a violência contra criminosos. "Ele está estimulando a tortura num país democrático, isso é algo que precisa ser visto com muita atenção e seriedade", afirma. Ana Veloso chamou a atenção para outro ponto delicado: "Os veículos de comunicação não podem nem pensar em assumir o lugar do estado". Como exemplo, ela cita os programas de TV que se oferecem para pagar testes de DNA com o intuito de provar que a Justiça do País não funciona. Ela também condenou a incoerência dos apresentadores Jota Ferreira e Cardinot, que dedicam boa parte de seu tempo na TV a falar mal da polícia do estado, mas aceitaram protagonizar uma campanha publicitária do Governo promovendo serviços de emergência policial. Quando é a classe média que assiste a esses programas, diz Aline, a gravidade do problema é ainda maior. "Esse expectador ou é cínico ou mal informado", sugere. Para ela, as pessoas têm que enxergar a mídia como um veículo que pode ser um grande parceiro na luta por todos os direitos. Já Ana Veloso atribui esses excessos à cultura capitalista, onde os interesses inidividuais estão acima dos coletivos. Ela diz que esse modelo capitalista exclui, violenta e gera mais pobreza. Para a mediadora do debate, Suely, o problema é educacional. "As pessoas ficam 15 anos na escola e têm uma visao pequena das coisas. As pessoas não conseguem compreender os direitos humanos da forma que Ana e Aline vêem", comenta. Sobre o relacionamento com a imprensa local, Aline afirmou que há uma boa receptividade. "Somos a favor do diálogo. Com a conversa e a sensibilização, vamos contribuir com o conhecimento", relata. Ana revela que o diretor de um jornal local se dispôs a produzir uma série de reportagens que tentasse mudar a visão pregada por ele mesmo num editorial. Ele havia se referido a adolescentes de rua como "menores e marginais". Ela se queixa, no entanto, da forma preconceituosa como os jornalistas tratam os homossexuais. A mensagem final das duas jornalistas veio otimista. Aline defende que os meios de comunicação podem ser grandes parceiros na construção de um mundo melhor. E Ana tem esperanças: "se eu sair daqui com cinco alunos ganhos para a nossa causa, vou achar que cumpri meu papel social de jornalista". Por Roberta Rêgo Fotos: Ricardo Bicudo Veja as outras matérias sobre o Fórum de Comunicação: Câmera Oculta - Quinta/manhã Ética, Comunicação e Pesquisa - Sexta/manhã

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